quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Sobrevivemos à primeira semana, de escola, no campo!


O limite de saída de casa é às 07:45. Deixamos a cozinha, o cheiro a café para trás, a bisavó fica a acenar, entre portas, e as miúdas correm para o jipe. Já descobrimos o melhor caminho para Santiago. Por montes adentro, vemos, bem cedo, o sol a começar a aquecer. 
OLho para a estrada, de terra, e as comparações amontoam-se na minha cabeça. 
Passei por um único carro, em todo o caminho! Parece a brincar mas não é! Os 45 Mn de trânsito na A5, onde nos perdíamos entre o stress de chegar atrasados e a vontade de percorrer os 15 km, na faixa lateral...deram agora lugar a 20 Mn de conversa entre irmãs e uma observação, genuína, do que nos rodeia. 
Voltemos à estrada rural. Estradas rurais, mesmo. Daquelas que fazem o jipe dançar. Nunca paramos, não nos cruzamos com ninguém, a não ser em Cruz de João Mendes, onde vemos, nesse caminho, às vezes, crianças, em grupo, à beira da estrada, à espera da rodoviária. 
Já nasceu um bezerro, numa destas viagens, já nos perdemos a filmar o acontecimento, já sentimos que isto é uma paz e que, em momentos chave, podemos fazer uma pausa e celebrar a vida.
A mais velha, a Maria do Mar, começou as aulas na segunda-feira. Dez anos de vida. Nova. Directamente do colégio, do Restelo, para a escola pública, no campo. A ansiedade do primeiro dia deu lugar ao telefonema diário: "mãe, posso ficar mais tempo? Estou a divertir me tanto!".
Também deu lugar Ao que não tínhamos antes: "mãe, hoje tive um furo e não havia professor de substituição". Assim como ao impensável para Lisboa: entrou no ensino artístico e Havia vagas para todos! Ficou com o instrumento que escolheu e as aulas já começaram! 
Depois de 4 anos de Orquestra Metropolitana de Lisboa, 4 anos de piano e 4 anos de 180 euros, por mês, em Musica, nasce, nas nossas vidas, um novo conceito de escola: conservatório - escola de artes de Sines- vai à escola pública e os pais não pagam! 
Voltemos ao instrumento:) diria que a minha filha está integrada no campo quando larga o piano e avança em Acordeão! :)
Uma semana de ensino público significou, até agora, testes de diagnóstico, disciplina a disciplina deram, pouco mais do que o material a comprar mas, a boa notícia é que a organização da escola me parece surpreendente!
Vindo mal habituada do Parque, bilingual School, no Restelo, imbatível em organização, esta escola, no campo, deixa me dormir tranquila. Simpáticos, responsáveis, professores fixos, com anos de casa, - falei mais de 10 vezes ao telefone com um elemento da direcção- sempre acolhedora e disponível- fazem me imaginar que posso aqui viver feliz, para sempre...(vamos contando novidades)!
Entre Grandola e Santiago iniciámos uma nova vida. Esta quarta-feira, demos início, em família, aos prazeres do mundo rural: a piscina. (Já lá vamos).
De manhã, A mais velha e a mais nova ficam na escola (em relação à mais nova, falaremos mais tarde), vamos, o meu marido e eu ao café Serra. (A Alice também lá passa, sempre, para dizer bom dia e já lhe respondem um agradável: "bom dia, Alice!").
Esta quarta feira tínhamos prometido que quando as fôssemos buscar íamos à piscina pública. 
Ora, o que é isto de piscina pública, em Santiago? 
Um género de edifício, ao estilo do racket Club, da quinta da marinha, em Cascais, com as mesmas janelas de vidro, de alto abaixo, com verde e vegetação, com relva e infra estrutura nova. A maior diferença é nos preços! Por cerca de 10 euros, por mês, cada uma das miúdas tem aulas! Piscina olímpica para adultos e piscina para crianças, gigante! Brinquedos, pranchas, tudo o que temos direito!
A quem já vivia com esta descoberta das mordomias do Estado (onde vemos algum do nosso dinheiro, bem investido), nada de novo, mas, para quem, como nos, desconhecia este movimento de vida, saudável, feliz e em conta, estamos MARAVILHADOS!
Hoje fomos conhecer uma quinta onde estão a terminar as vindimas, com quem vamos desenvolver novas histórias, projectos, comunicação. - a seu tempo vão conhecer-.
Já vos disse que a Maria do Mar começou a falar com sotaque?!dez anos de vida. Dez anos em Lisboa. Dois meses no Alentejo. Uma semana de escola! 

Sejam bem-vindos às nossas semanas no campo. Do campo para a cidade. São as NOTÍCIAS DA TERRA. Quando as notícias chegam da Terra, chegaremos nós!

Correio para: thestorylovers@gmail.com
In Terra do Sempre 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sejam bem-vindos à escola no campo!



A Maria do Mar já acorda sozinha. Lá chegou ela, à cozinha, para tomar o pequeno-almoco. A Alice, aos três anos, podia dormir mais um pouco mas a escolha das escolas, no concelho do lado, fá-la levantar cedo e ir a reboque da irmã. 
Sol, 07:45, primeiro dia a sair do monte, pelo caminho da serra. Primeiro dia de Outono. 
Alice vai de biberão na mão e olhos azuis gigantes a brindar o dia! 
Hoje vai ser tudo diferente! 
A lentidão da internet, culpa da NOS e do facto de não vivermos na Comporta mas num monte em Grandola, está a par e passo com o devagar, devagarinho, que se respira no Alentejo mas hoje é dia para grandes velocidades. 
A mais velha não quer chegar atrasada à escola! Vai cronometrando os gestos que fazemos na cozinha...
Não conhece ninguém, vem de Lisboa ansiosa e feliz, com uma vontade gigante de ganhar liberdade mas presa, tão presa, à antiga escola e aos amigos. Não se esquece o colo do Parque. Foi um abraço que fica para a vida. Isso, eu sei. Mas é uma miúda tão gira quão curiosa, livre, teimosa, defensora dos mais fracos, dedo apontado ao que não gosta. Sabe bem o que quer. O caminho não vai ser fácil mas vai ser feliz. 

Mudança 1: o caminho para a escola não tem trânsito:) têm árvores, pássaros, meninos que esperam o autocarro e cabras, vacas a pastar.
Mudança 2: quase não nos cruzamos com automóveis:)
Mudança 3: em 25 Mn estamos na escola. Para esquecer fica a longa fila da A5 que nos levava de Cascais ao Restelo e depois para mim, Restelo-SIC.
Mudança 4 : as manas vão juntas, no jipe, a cantarolar e a ouvir conselhos de uma mãe tão galinha quão não galinha. O tipo de galinha que não se deixa apanhar:) 
"Que espectáculo filhas! Primeiro dia de aulas! Não conhecem ninguém e vão ficar com os amigos de Lisboa e os novos amigos!  Mané, (como ela gosta que lhe chamem, a mais velha) sê simpática, querida! Não te isoles e tenta conversar com as meninas e vai, com elas, almoçar!"
Pela primeira vez está numa escola onde os lugares não são marcados no refeitório. "vai ter de se safar!" Penso. Primeira vez numa escola pública. (Ninguém morre mas deixou o colégio, e, Lisboa, as fardas, o ambiente desde os 3 anos, as amigas de sempre! - calma se alguém acha que é fácil- miúdas são miúdas e quem é gaja é gaja com amigas:)

Ok. Estamos a chegar. Edifício moderno. Grande. Crianças por todo o lado. E pais. 

Alice ainda está de pijama mas rapidamente se veste para levar a mana à escola! Leva lhe, até, o saco da ginástica e num minuto de pausa consigo duas fotos, sob o olhar danado da mais velha! 
"Mãe, aqui não!"
Ok. Ok! Suspiro. Done! Anyway. Saquei as fotos do primeiro dia. 

Não entro. Fico à porta. Ela percebe que há que passar o cartão no segurança. Segue os outros. Deixo-a ir. Fico por ali...até que a galinha mãe toma conta de mim:
"bom dia, (digo ao sr da portaria) preciso de entregar uma coisa à minha filha que acabou de entrar!
Resposta: "minha senhora, ela vai ter de se orientar sozinha:) mas vá lá!"
Entro, parecem cogumelos a chegar. Encontro-a a encaminhar-se para a escadaria. 
"Mãe?!"
Mãe galinha que se preze não dá parte fraca:
"A mana quis vir ver a escola! Vai amor, sobe e até logo!"
 E desapareceu no meio de um amontoado de miúdos, de mochilas e sacos e conversa. Já vos disse que ela não conhece ninguém?

Saímos aceleradas dali. Faltava uma. Pequena. Igualmente loira. Igualmente minha. Primeiro dia de escola. Também. 
rua abaixo. Porta da escola:
"Mãe, quero levar a minha mochila e não levo chucha"! 
Huuuuu, ok. Chucha no saco. 
Foto em frente à escola. Done. Segue pela escadaria. Sozinha. A puxar a mochila. 
Pergunto-me se terá, mesmo, acabado de fazer 3 anos? 
Lá dentro veste o bibe, rosa, é claro! entra na sala e ouço um gigante passo de maturidade:
"Mae, adeus mãe! Dá-me um beijinho!" 

Quando saí da escola, olhei para o relógio e percebi que a outra devia estar a ter o primeiro intervalo mas o telefone, que ganhou por vir para a escola pública- mais para uso de mães fortes, do que das filhas aterrorizadas- não tocou. 
Agora, passaram quase quatro horas, desde a hora que a deixei. O telemóvel não tocou. Está aqui mesmo ao lado.

Sobre a escola. Nova. Pública. Do campo. Lá chegaremos. Vamos, hoje, tentar sobreviver ao primeiro almoço. Dela. Na escola. Que ou muito me engano será com amigas, à mesma mesa, e já com algumas gargalhadas. 
E amanhã há mais. 
Do campo para a cidade. todos os dias. Quando As notícias chegam da Terra, chegaremos nós. 

Correio para:thestorylovers@gmail.com
In Terra do Sempre 

domingo, 13 de setembro de 2015

No campo...temos o coração maior...

http://mariacapaz.pt/cronicas/refugiados-em-nos-por-barbara-alves-da-costa/

Vida nova...

O verão está no fim. Arrumámos caixotes, recebemos amigos, testámos jantares, enchemos a casa de sonhos. Agora, semana após semana, vamos ter mais tempo.
A escola vai começar, há três hectares para plantar, dois burros para trazer para o campo, galinhas, patos e um sem fim de histórias para contar.
Era uma vez, a vida no campo, está a começar...
Escolas, amigos, filhos, com quem nos cruzamos, dias difíceis, a história de quem mora ao lado, o que nos traz esta vida no campo, saudades da cidade, restaurantes, o que visitar, onde comer, o que fazer, praias, pessoas, vidas, dificuldades, o filme na terra, o cinema na Terra do Sempre, e...claro está... O que é isto de passar da cidade para o campo...com os miúdos?
Sigam-nos, procurem-nos, apareçam. Estamos na Terra do Sempre <3